Recanto de Palavras

Traga pra cá sua mala,      não se esqueça da camisa branca      do terno branco e do chapéu panamá. Deixe pra lá      a gravata, o relógio e o jornal. Deixe que eu leia Neruda pra você,      te balance na rede,      e te faça cafuné. Já encomendei pra sua chegada      luar, sabiás, manga e açai. Vou fazer bolo de fubá, café fresco      só pra te agradar. Vamos passear de mãos dadas,      molhar os pés na beira do mar,      dançar, depois só amar. (Mima Badan)

Ela quer voar ela precisa voar não a deixam voar      Está doente      está sem vida      quer voar           Por que ficar?           Para que ficar?           Até quando ficar?                Ficar é                ter vida                ela não tem vida                     Voar é                     se libertar                     para uma nova vida                     para uma vida nova. (Mima Badan)

Ando desligado da vida das pessoas      Onde larguei a carteira?      Cadê os óculos      as chaves      os documentos?           Me esqueci dos aniversários           me esqueci dos presentes           me esqueci, me esqueci           Me distraí da mulher           me desliguei do amor           me esqueci dos sonhos      Ontem me desliguei do horário      o tempo passou      o sonho acabou Sou desligado desligado da vida desligado de mim. (Mima Badan)

Não tem Roberto nem Erasmo não tem Gil e nem Caetano      Lá vem o Iron Maiden Presentes no local Rush, Kiss, Queen     e até Metallica e Sepultura Não vá de mauricinho muito menos de patricinha vá de roupa preta com caveira      pra entrar na minha festa  Se não conhece Vírus é um alienado      que de rock não entende nada Vá procurar outra festa      na minha você não entra. (Mima Badan) Na lembrança dos meninos roqueiros que tocavam com meu filho lá em casa - saudades...

Os óios azur da menina faz caboclo si apaixoná faz caboclo si perdê di amô      Quem me dera podê      merguiá nos óios da menina      pra mi afogá di amô           Menina dos óios azur           óia pra esse cabiclo           caboclo cheio no amô. (Mima Badan)

Não quero da vida migalhas Do amor quero a beleza Da natureza quero o sol Do filho quero o carinho Do amigo quero leveza De Deus quero perdão. (Mima)

Se eu pudesse, pararia o tempo quando      o bebê sorrisse      a Jessye Norman cantasse      e a mãe orasse.      Se eu pudesse daria     vida ao amor que acabou      luz a quem nunca enxergou      e um futuro para o menino. Se eu pudesse cantaria      uma canção do Roberto      Modinha do Taiguara      e uma canção de ninar. Se eu pudesse voltaria      para o colo de minha mãe      para o carinho de minha avó      e para a infância de meus filhos. Se eu pudesse faria      chover só chuva miúda      ventar só de mansinho      e rezar só se tiver fé.     Se eu pudesse,      mas não posso. (Mima Badan)

Desliguem a TV desliguem o computador      quero  silêncio      Parem de falar      parem de brigar           preciso de silêncio           Parem de buzinar           parem de xingar                quero silêncio                Quero ficar comigo                sozinha comigo                só eu comigo                     em silêncio. (Mima Badan)

Ele num largava da viola violava nas festanças violava nas tristezas      Viola que trazia alegria      viola que curava dô      viola que devorvia sorriso           Chico violava pras meninas           Chico violava pras véias           Chico violava pra Nosso Sinhô                Se arguém entristecia                     Chico solava a viola                     e a tristeza se ia Se outro tava alegre      a viola fazia dançá      e a alegria fica maió      Agora Chico mudou pra longe           tá morano notro sertão           no sertão de Nosso Sinhô           Nosso Sinhô deve tá mais contente                contente pruque Chico chegô                violando segue Nosso Sinhô. (Mima Badan) (A imagem é um quadro de Almeida Júnior) http://www.slideshare.net/mimabadan/chico-violeiro-mima-badan

O povo reza o povo espera      e a chuva não vem O povo sofre o povo reza      e a chuva não vem A criança chora a mulher ainda reza      e a chuva não vem O homem procura o padre reza      e a chuva não vem O homem pensa a mulher sofre      não vão mais rezar      a chuva não veio Deus se esqueceu? Não ouviu as rezas?      a chuva não veio... Por que Deus se esqueceu? Por que o povo sofreu?      A chuva não vem? (Mima Badan)

O marido conversava com a mulher a mulher lia, fazia poesia a vovó papeava com o vovô ela fazia crochê, ele lia jornal As meninas brincavam com bonecas os meninos jogavam bola o passarinho cantava o gatinho miava feliz Um dia uma caixa chegou a vida mudou... O marido não conversa mais com a mulher a mulher não lê mais nem faz poesia o vovô ficou calado a vovó se esqueceu do crochê As meninas não brincam os meninos não jogam o passarinho canta triste o gatinho fugiu pra rua O acontecido não foi tragédia nem morte ou desavença foi desde quando a caixa chegou que tudo mudou, que tudo entristeceu. Agora tem Faustão mas não tem bola nem boneca tem Praça da Alegria mas não tem praça nem alegria. (Mima Badan) http://www.slideshare.net/mimabadan/antes-e-depois-mima-badan

Meu nome é Bernardo, mas todo mundo me chama de Bê. Tenho 7 anos, moro em São Paulo com minha mãe. Agora, 8 horas da noite, estou cansado e com muito sono. Já tomei banho, jantei, vesti pijama e estou esperando minha mãe chegar, mas ela não chega nunca... Ah, me esqueci de contar que não estou sozinho. A Cida está aqui comigo. Ela é minha babá e também está cansada e com sono. A minha mãe chega sempre muito tarde, e quase sempre estou dormindo. Não aguento esperar, tenho sono. Não entendo porque ela trabalha tanto. Ela fala que é para que eu tenha tudo de bom, mas será que o que preciso custa tão caro? Se ela não pode comprar um brinquedo caro, eu não ia ficar triste se fosse um baratinho. Eu acho que tem muitos brinquedos baratos, não é? E eu já tenho tantos! Tenho um montão de carrinhos, bichos, bolas, então, ela não ia precisar comprar mais nada. O que eu queria mesmo é que ela ficasse mais comigo, que me pegasse no colo, passeasse comigo no parque, contasse his

 A gravata aperta a gravata sufoca ele ficou sem ar Ele quer short ele quer camiseta pra poder respirar O escritório aperta a vida o escritório sufoca a vida ele fica sem ar A praia está logo ali o mar está logo ali ele precisa respirar Ele desata a gravata joga tudo pro alto pra ter ar... e mar. (Mima Badan)

Coitada da menina menina que não sabe brincar não sabe brincar só sabe comprar Ela compra bonequinhas ela compra carneirinhos ela compra, ela compra mas ela não sabe brincar só sabe comprar Pobre menina não lhe ensinaram a brincar só a comprar... (Mima Badan)

Ele foi embora ela achou que morreria morreria de amor. Mas, não morreu.      A vida foi passando      os dias correndo      a tristeza ficando      teimando em não ir embora.           A lembrança do amor perdido           não saía, não partia           ela queria esquecer           ela queria viver... de novo.                A vida continuou passando                os dias correndo                a alegria voltando                teimando em sorrir.                      O dia amanheceu sorrindo                      ela também sorriu                      a tristeza se foi                      e ela sobreviveu.                           (Mima Badan) http://www.slideshare.net/mimabadan/sobrevivncia-mima-badan

Desde quando Beto e Rita namoravam já faziam planos de como seria a vida depois do casamento. Tudo estava sonhado e combinado: teriam uma casa com quintal e cachorro. Filhos seriam três: dois meninos e uma menina. Um dos meninos se chamaria Ronaldo (Beto adorava futebol e era admirador de Ronaldo Fenômeno, além de ser corinthiano roxo). O outro seria Carlos, nome do pai de Beto. A menina se chamaria Isabel. Até as profissões já estavam escolhidas: Ronaldo seria jogador de futebol e jogaria no Corinthians, é claro. Carlos seria engenheiro e Isabel bailarina. O casamento foi lindo, e os felizes noivos, agora marido e mulher foram para a casa nova para viver a vida que tanto sonharam. Era o sonho que começava a se realizar. Os filhos foram chegando: o futuro jogador, o engenheiro e a bailarina. Foram crescendo... Ronaldo frequentava uma escolinha de futebol mas... não levava o menor jeito. Ia contrariado, principalmente porque o pai insistia para que ele usasse

Meu coração anda pesado, cansado... Quero trocar meu coração por um que seja leve, que saiba bater em rítmo de samba-canção. Esse coração novo precisa saber amar, mas não um amor qualquer. Tem que ser como o amor que a criança tem pela mãe, que o passarinho tem pela flor. Quero um coração que se emocione quando o céu estiver estrelado, quando o sol chegar e a criança sorrir. Quero um coração que se alegre, que sorria e que seja feliz. Esse coração tem que ser forte. Forte para bater durante muito tempo... sempre no ritmo do samba-canção... para que eu possa dançar de rosto colado com o meu amor Onde encontrarei esse coração? (Mima Badan)