A FAMÍLIA SONHADA
Desde quando Beto e Rita namoravam já faziam planos de como seria a vida depois do casamento.
Tudo estava sonhado e combinado: teriam uma casa com quintal e cachorro. Filhos seriam três: dois meninos e uma menina.
Um dos meninos se chamaria Ronaldo (Beto adorava futebol e era admirador de Ronaldo Fenômeno, além de ser corinthiano roxo). O outro seria Carlos, nome do pai de Beto. A menina se chamaria Isabel.
Até as profissões já estavam escolhidas: Ronaldo seria jogador de futebol e jogaria no Corinthians, é claro. Carlos seria engenheiro e Isabel bailarina.
O casamento foi lindo, e os felizes noivos, agora marido e mulher foram para a casa nova para viver a vida que tanto sonharam. Era o sonho que começava a se realizar.
Os filhos foram chegando: o futuro jogador, o engenheiro e a bailarina.
Foram crescendo... Ronaldo frequentava uma escolinha de futebol mas... não levava o menor jeito. Ia contrariado, principalmente porque o pai insistia para que ele usasse a camisa do Corinthians... e ele era palmeirense.
Na escola Carlos ia mal em matemática... odiava os números! E conforme crescia... a dificuldade aumentava. Como ser um engenheiro? pensava o pai.
Beto estava contrariado com seus meninos e até que tinha razão, afinal, o gosto dos filhos lhe dava tristeza, desânimo.
Ronaldo, além de palmeirense perna-de-páu, gostava de dançar. E, não de dançar samba... Todo seu tempo livre ficava na frente da telefisão assistindo vídeos de... balé clássico!
Meu filho, um bailarino? Beto vivia a lastimar. O que os amigos iam dizer? Ele havia planejado, sonhado que ele seria jogador de futebol e corinthiano. Virou bailarino e ainda por cima... palmeirense! Uma lástima! Era demais para Beto!
Carlos, então, vivia a batucar na carteira, enquanto o professor ensinava equações, teoremas. Com a cabeça no mundo da lua, com a cabeça cheia de sons. As equações, os teoremas ficavam "a ver navios".
Beto e Rita conversavam para poder entender no que erraram... Mas, ainda restava a pequena Isabel que, mal andou já foi para aulas de balé. Era o maior berreiro!
Rita pensava: ela ainda é pequena, aos poucos vai adorar!
Adorar? Que nada! Conforme Isabel crescia, também crescia a falta de vontade com o balé. Adorava mesmo brincar com bola. Brincava com a bola dos irmãos e até fazia umas embaixadinhas, o que deixava Rita desesperada, com medo que sua bailarina se machucasse.
Tantos sonhos foram sonhados e - que desilusão! Os filhos não correspondiam aos sonhos, decepcionavam seus pais.
Rita e Beto, pensando nos filhos que sonharam acabaram por não prestar atenção nos filhos que tinham, na realidade de suas vidas.
Ronaldo, apesar de não ter se tornado um jogador de futebol, ia ao estádio ver seu Palmeiras jogar, e até acompanhava o pai nos jogos do Corinthians. Segundo entendidos, será um grande bailarino clássico, pois talento é o que não lhe falta.
E Isabel? Joga no Corinthians!
Beto e Rita, apesar das felizes vidas dos filhos continuam lamentando que não tiveram um jogador de futebol, um engenheiro e uma bailarina.
Presos aos sonhos antigos deixam de ser felizes com os filhos reais: um músico, um bailarino e uma jogadora de futebol.
Pobres Rita e Beto!
(Mima Badan)
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