O PRIMEIRO NAMORADO DE MARIA


Maria conheceu Pedro quando eram quase adolescentes. Estudavam no mesmo colégio, na mesma classe. Desde o primeiro dia de aula trocaram olhares, ficaram amigos.

Pedro, muito educado, muito atencioso, esperava por Maria no final das aulas, carregava seus livros e a acompanhava até o ponto de ônibus. Despediam-se com alegria, pois sabiam que no outro dia se reencontrariam. Aos domingos iam à matinê, sempre de mãos dadas, trocando carinhos e beijos às escondidas do lanterninha do cinema.

Mas, um dia Maria recebeu de seu pai a notícia que teriam que mudar de cidade – novo emprego, nova casa... E agora? pensou Maria, como vou poder viver longe de Pedro? Achou que morreria...

A despedida foi triste – o dia amanheceu nublado, com cara amarrada... parecia querer acompanhar a dor de Maria. Pedro também estava inconsolável – nos braços de Maria chorou e fez juras de amor. Ele só se acalmava um pouco quando pegava o violão, e tocava as canções prediletas de Maria.

Prometeram que escreveriam cartas diariamente, que jamais amariam outra pessoa... Se despediram e Maria seguiu seu destino.

O percurso até a nova casa Maria fez aos prantos. Seus pais e irmãos não sabiam como agradá-la, e quanto mais a agradavam, a consolavam, mais Maria chorava... Os primeiros dias passaram arrastados. Maria odiou o colégio, os professores, os novos colegas... Odiou a cidade, o calor, a chuva – tudo lhe parecia horrível sem Pedro.

Cartas iam e vinham diariamente... Depois de algum tempo elas vinham uma vez por semana, uma vez por mês, de vez em quando até que... Nunca mais foram... Nunca mais chegaram...

Pedro se transformou numa lembrança boa, numa saudade gostosa... Maria de vez em quando se lembrava dele... Como estaria? O que estaria fazendo? Teria outro amor?

Os anos foram passando, Maria se tornou uma linda mulher – bem sucedida profissionalmente e com um novo e grande amor. Maria se casou, tem dois filhos que hoje já são adolescentes, como ela quando conheceu Pedro. Vive muito bem com seu marido, a quem ama muito e é também muito amada. É feliz.

Mas, a curiosidade de vez em quando vinha: como estaria Pedro? Ele deve ter se transformado num lindo homem, pois era um lindo garoto... Será?

Até que um dia... Chegou um convite de casamento: uma sobrinha ia se casar... Maria foi com a família para a antiga cidade, afinal, seriam padrinhos dos noivos.
A cidade que ela não via há tanto tempo estava muito mudada. Maria andava pelas ruas e não conhecia ninguém... Sentiu-se uma forasteira de verdade...

A festa do casamento estava animada, os noivos dançavam felizes. Tudo corria bem, perfeito até que...
Um homem subiu ao palco e começou a fazer um discurso, mas, como estava muito alterado pela bebida, sua fala era quase incompreensível e, cambaleando, quase caia. Uma mulher, que devia ser sua esposa, muito constrangida, procurava levá-lo de volta à mesa, mas ele não aceitava – xingava, empurrava a mulher... Tinha resolvido que queria cantar... Um vexame!!!

Todos ficaram constrangidos mas, aos poucos o homem foi conduzido pelos amigos e se acalmou. Ao passar por Maria ela sentiu seu olhar nela – um frio correu por todo o corpo de Maria... Aquele olhar... De quem era aquele olhar que ela parecia conhecer?

Pedro!!! Não era possível!!! Mas era... Aquele homem era o seu Pedro, o seu primeiro namorado, o seu primeiro amor...

Em que momento da vida o menino Pedro havia se perdido? Em que momento da vida o menino Pedro havia se transformado naquele homem amargo e até violento? Onde ficou sua beleza, o brilho dos olhos, o sorriso nos lábios?

Maria pensou que, se soubesse o que ia ver, não teria vindo ao casamento... E, se não tivesse vindo, Pedro ainda seria aquele garoto lindo que acarinhava seu rosto, secava uma lágrima que teimava em chegar... Ainda seria aquele garoto lindo que passava cola de matemática, mas que esperava pela de história...

Maria, na viagem de volta pensou em tudo que viu, em tudo o que passou naquela festa... Olhou para o lado, viu seu marido sorrindo pra ela, dirigindo seu carro com segurança e pensou que, ao longo dos anos de casamento sempre pensava em como seria se tivesse se casado com Pedro... Agora já sabe...

Maria passou o braço em volta do marido, deu a ele seu melhor e mais carinhoso sorriso e pensou o quanto era bom ser sua mulher. No banco de trás seus filhos dormiam tranquilos... Maria colocou um CD com uma música suave e seguiram para casa... Pedro, o primeiro namorado, ficará na lembrança...


(Mima Badan)

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